Descobri que gatos dão uma bad trip horrível com a Kitana. Eu tinha ido a casa do Pikito naquela noite e na volta, fumei um pouco de haxixe que eu guardo para ocasiões especiais. Aquela não era uma ocasião especial nem nada, mas era duas horas da manhã e eu estava feliz.
Estava agitado e não conseguia dormir de jeito nenhum, daí liguei o computador para [tentar] escrever alguma coisa e ficar viajando. Kitana obviamente acordou e já começou a miar e miar e miar e miar... Não aguentava mais tanta miação. Mas beleza. Pus uma música alta e tentei ignorar. Algo estava errado.
Escuro. Não vejo além do que o monitor ilumina. Nine Inch Nails toca alto nos falantes. Sinto uma perfuração na perna. Outra. Olho pra baixo e lá está ela, me arranhando, tentando se escalar. Kitana. Mas eram patas de monstro, caranguejos gigantes. Medo medo medo. Downward Spiral. Eu pedia pra ela sair e ela miava alto e cada vez mais alto. Um miado longo enlouquecedor. Pára Kitana, chega chega chega. Mas nada. "...the needle tears a hole, the old familiar sting, try to kill it all away, but I remember everything..."
Tentei tira-la, mas ela só me arranhava com aquelas presas enormes e se prendia em mim. Seu miado ecoava dentro o meu corpo me tirando o equilíbrio. Sentia muita dor. Tudo doia. Mate-me logo, por favor. Anda, mate-me e acabe com minha angústia. Brisa ruim.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
esquisitos, esquisitices, fábulas e queijo
Sem a Kitana minha vida não mudou muito. Eu continuo fazendo minhas tarefas diárias, mas agora sem me preocupar em ter que voltar pra casa para alimentá-la ou limpar a caixinha de areia. Confesso que às vezes sinto falta de por ela na minha barriga enquanto jogo vídeo-game ou assisto um filme.
Descobri que homens que eu admiro gostam de gato e recebem e recebiam a recíproca. William Burroughs, Lourenço Mutarelli, Marilyn Manson e Kurt Cobain, por exemplo. São pessoas "esquisitas", que de uma forma ou outra chamaram a atenção porque buscaram experiências diferentes em seus meios. Eu não sou fanático, odeio fanatismo, não acredito que algo ou alguém seja melhor a ponto de ajoelharmos em devoção. Mas esses homens são exemplos que eu sigo, sim. E o que eles têm em comum são os gatos. Nesse contexto, valeria eu ter um gato, até me convenceria se a Kitana não tivesse ido embora. Mas ela também não ia muito com a minha cara.
Estive pensando ultimamente sobre o por quê dos gatos não gostarem da minha pessoa. Nós temos tudo para dar certo, até as esquisitices e coincidentes pessoas que gostam de gatos. Pensando nisso, comecei a roer a unha, aí me caiu a ficha. Puta merda, é isso!, disse. tudo começou com uma historinha idiota que roda por aí:
Há muito tempo atrás, o cão achou um documento muito importante, e como não tinha onde guardar, ele pediu para seu amigo gato guardar. Como o gato também não tinha onde guardar, o gato pediu pro rato guardar, e o rato guardou [aonde ninguém sabe também!].
Mas um certo dia desse o cão foi buscar seu documento com o gato, o mesmo lhe contou que tinha deixado com o rato, e foram os dois lá buscar. Chegando lá o rato contou que lhe deu fome e roeu todo o documento, o gato, como sabia que o cão iria ficar furioso, saiu correndo atrás do rato para matá-lo, e cão fez a mesma coisa, só que atrás do gato. A partir desse dia esses três ex-amigos não pararam de brigar.
Cachorros não gostam de gatos, e estes não gostam de ratos. Logo, percebi que eu sou um roedor. Eu roo unha e já até terminei com uma garota porque ela não gostava de queijo - eu jamais daria certo com alguém desse tipo. E outra, quem não gosta de queijo é esquisito pra caramba! Eu hein, deve ser dar bem com gatos, né?!
Descobri que homens que eu admiro gostam de gato e recebem e recebiam a recíproca. William Burroughs, Lourenço Mutarelli, Marilyn Manson e Kurt Cobain, por exemplo. São pessoas "esquisitas", que de uma forma ou outra chamaram a atenção porque buscaram experiências diferentes em seus meios. Eu não sou fanático, odeio fanatismo, não acredito que algo ou alguém seja melhor a ponto de ajoelharmos em devoção. Mas esses homens são exemplos que eu sigo, sim. E o que eles têm em comum são os gatos. Nesse contexto, valeria eu ter um gato, até me convenceria se a Kitana não tivesse ido embora. Mas ela também não ia muito com a minha cara.
Estive pensando ultimamente sobre o por quê dos gatos não gostarem da minha pessoa. Nós temos tudo para dar certo, até as esquisitices e coincidentes pessoas que gostam de gatos. Pensando nisso, comecei a roer a unha, aí me caiu a ficha. Puta merda, é isso!, disse. tudo começou com uma historinha idiota que roda por aí:
Há muito tempo atrás, o cão achou um documento muito importante, e como não tinha onde guardar, ele pediu para seu amigo gato guardar. Como o gato também não tinha onde guardar, o gato pediu pro rato guardar, e o rato guardou [aonde ninguém sabe também!].
Mas um certo dia desse o cão foi buscar seu documento com o gato, o mesmo lhe contou que tinha deixado com o rato, e foram os dois lá buscar. Chegando lá o rato contou que lhe deu fome e roeu todo o documento, o gato, como sabia que o cão iria ficar furioso, saiu correndo atrás do rato para matá-lo, e cão fez a mesma coisa, só que atrás do gato. A partir desse dia esses três ex-amigos não pararam de brigar.
Cachorros não gostam de gatos, e estes não gostam de ratos. Logo, percebi que eu sou um roedor. Eu roo unha e já até terminei com uma garota porque ela não gostava de queijo - eu jamais daria certo com alguém desse tipo. E outra, quem não gosta de queijo é esquisito pra caramba! Eu hein, deve ser dar bem com gatos, né?!
terça-feira, 28 de julho de 2009
despedida
- O nome dela é Kitana.
- Ahh que nome bonito, forte. Não vou mudar.
- Mas o senhor vai ter que vir aqui de vez em quando com ela, beleza?
- Tá certo. Muito obrigado viu?!
- Falou.
Eu cheguei em casa no último sábado às 9h sem dormir nada. Às 9h30 já estava trabalhando na edição de um curta com um amigo. Café, minha mãe gritando para variar, impaciência, café, mais gritos, surto por causa da Lola e da Kitana. "A Kitana tá sem comer. A ração dela acabou faz tempo". Já vou, já vou. "E essa gata vai ficar aqui em casa até quando? Você tem que arrumar alguém pra essa gata, hein?!". Já vou, já vou.
Esse "já vou" ficou lá pro meio-dia, hora que fiquei um pouco mais livre e a gata precisava realmente comer. Cabelos desgrenhados apontando todas as direções, barba gigante, camiseta velha, calça suja de terra, uma meia de cada par porque havia sujado um pé com xixi na madrugada anterior, chinelos e um destino: ir até a esquina comprar ração. Chegando lá, demorou um monte para eu ser atendido. Uma droga, porque aquele pet shop é pequeno e não tinha quase ninguém.
Fazia tempo que eu estava procurando alguém para ficar com a gata, mas nunca encontrava. Uma amiga quase ficou, mas não rolou. Depois outro conhecido, e nada. Cheguei a pensar que teria que ficar com ela. E essa ideia não me soava tão ruim assim, estava procurando sem pressa um novo lar pra gatinha, mas se não encontrasse, adoraria vê-la grandona e folgada me esperando em algum canto escondido da casa.
Enquanto comprava ração, um homem entrou com três crianças perguntando se eles não tinham nenhum filhote de gato para doar. Eu não acreditei. O cara repetiu e eu me adiantei: "eu tenho".
- O quê? - perguntou.
- ...Um filhote de gato para doar. Eu estava comprando ração pra ela nesse exato momento - respondi inacreditado com a coincidência.
- 'Cê tá de brincadeira!
- Não. Não estou.
Enquanto descíamos a rua em direção à minha casa, ele me explicou que as crianças tinham um gato de três anos que morreu atropelado e que eles estavam sentindo falta. Me mostrou onde morava, perto da minha casa. "O senhor espera aqui que eu vou lá pegar a gata e, se o senhor gostar, é sua". Minha mãe e minha irmã estavam no quintal limpando e arrumando toda a sujeira e a destruição de Lola furacão quando eu dei a notícia. Quando vi a Kitana saltitando pelo quintal, sabia que nunca mais a veria.
Não sei se foi porque eu esqueci ou porque eu tenho esperanças de vê-la de novo, entreguei a gata sem me despedir.
- Ahh que nome bonito, forte. Não vou mudar.
- Mas o senhor vai ter que vir aqui de vez em quando com ela, beleza?
- Tá certo. Muito obrigado viu?!
- Falou.
Eu cheguei em casa no último sábado às 9h sem dormir nada. Às 9h30 já estava trabalhando na edição de um curta com um amigo. Café, minha mãe gritando para variar, impaciência, café, mais gritos, surto por causa da Lola e da Kitana. "A Kitana tá sem comer. A ração dela acabou faz tempo". Já vou, já vou. "E essa gata vai ficar aqui em casa até quando? Você tem que arrumar alguém pra essa gata, hein?!". Já vou, já vou.
Esse "já vou" ficou lá pro meio-dia, hora que fiquei um pouco mais livre e a gata precisava realmente comer. Cabelos desgrenhados apontando todas as direções, barba gigante, camiseta velha, calça suja de terra, uma meia de cada par porque havia sujado um pé com xixi na madrugada anterior, chinelos e um destino: ir até a esquina comprar ração. Chegando lá, demorou um monte para eu ser atendido. Uma droga, porque aquele pet shop é pequeno e não tinha quase ninguém.
Fazia tempo que eu estava procurando alguém para ficar com a gata, mas nunca encontrava. Uma amiga quase ficou, mas não rolou. Depois outro conhecido, e nada. Cheguei a pensar que teria que ficar com ela. E essa ideia não me soava tão ruim assim, estava procurando sem pressa um novo lar pra gatinha, mas se não encontrasse, adoraria vê-la grandona e folgada me esperando em algum canto escondido da casa.
Enquanto comprava ração, um homem entrou com três crianças perguntando se eles não tinham nenhum filhote de gato para doar. Eu não acreditei. O cara repetiu e eu me adiantei: "eu tenho".
- O quê? - perguntou.
- ...Um filhote de gato para doar. Eu estava comprando ração pra ela nesse exato momento - respondi inacreditado com a coincidência.
- 'Cê tá de brincadeira!
- Não. Não estou.
Enquanto descíamos a rua em direção à minha casa, ele me explicou que as crianças tinham um gato de três anos que morreu atropelado e que eles estavam sentindo falta. Me mostrou onde morava, perto da minha casa. "O senhor espera aqui que eu vou lá pegar a gata e, se o senhor gostar, é sua". Minha mãe e minha irmã estavam no quintal limpando e arrumando toda a sujeira e a destruição de Lola furacão quando eu dei a notícia. Quando vi a Kitana saltitando pelo quintal, sabia que nunca mais a veria.
Não sei se foi porque eu esqueci ou porque eu tenho esperanças de vê-la de novo, entreguei a gata sem me despedir.
terça-feira, 21 de julho de 2009
kitana
O mais engraçado no gato é que não sabíamos se era macho ou fêmea. Olha aqui, olha ali e nada. Então é fêmea, eu disse. Claro que não, quando é pequeno assim não dá pra saber, alguém disse. Aí ficamos na dúvida.
Dois dias se passaram e eu na pesquisa por um nome. O primeiro nome que me veio à cabeça era Molko. Era perfeito, fazia referência ao Brian Molko, da banda Placebo - que eu gosto muito, e além disso, ele é andrógeno, assim como meu gatinho. Perfeito. Depois pensei em chamar o gato de Muta, em homenagem ao escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli – que eu também gosto muito e que gosta muito de gatos.
“Hmm Molko é legal” - legal
“Muta?! Parece multa de trânsito” – Putz, o som parece mesmo. Nome excluído.
Logo em seguida, quando já tinha o nome praticamente definido, a minha amiga Pupo, tarada (no bom sentido) por gatos, me disse que é besteira isso de não saber o sexo, que se não tem pinto, é fêmea! Mistério resolvido, decidi que queria um nome místico, esotérico, mitológico. Sheeva (apesar de ser um Deus homem), Medusa, Ananke, Mitra... e por aí vai.
Foi minha irmã quem me lembrou de um nome que eu sempre gostei. O nome é de uma personagem que não é deusa, não faz parte de mitologia nenhuma a não ser a do jogo de luta Mortal Kombat. Princesa, filha adotadiva de Shao Khan, com um nome imponente e apenas isso, Kitana.
Dois dias se passaram e eu na pesquisa por um nome. O primeiro nome que me veio à cabeça era Molko. Era perfeito, fazia referência ao Brian Molko, da banda Placebo - que eu gosto muito, e além disso, ele é andrógeno, assim como meu gatinho. Perfeito. Depois pensei em chamar o gato de Muta, em homenagem ao escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli – que eu também gosto muito e que gosta muito de gatos.
“Hmm Molko é legal” - legal
“Muta?! Parece multa de trânsito” – Putz, o som parece mesmo. Nome excluído.
Logo em seguida, quando já tinha o nome praticamente definido, a minha amiga Pupo, tarada (no bom sentido) por gatos, me disse que é besteira isso de não saber o sexo, que se não tem pinto, é fêmea! Mistério resolvido, decidi que queria um nome místico, esotérico, mitológico. Sheeva (apesar de ser um Deus homem), Medusa, Ananke, Mitra... e por aí vai.
Foi minha irmã quem me lembrou de um nome que eu sempre gostei. O nome é de uma personagem que não é deusa, não faz parte de mitologia nenhuma a não ser a do jogo de luta Mortal Kombat. Princesa, filha adotadiva de Shao Khan, com um nome imponente e apenas isso, Kitana.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
filhote
O gato era minúsculo e arisco, estava morrendo de medo, mal sabia andar. O que eu poderia fazer? Encontre um bebê na sua porta e me responda. Com 22 anos eu já não guardava ódio ou rancor dos felinos, até aprendi a viver harmoniosamente com eles. Então eu peguei e corri direto pro meu quarto. Minha irmã e o namorado estavam lá e esconderam o gato por causa da minha mãe. Fui checar e ela já estava quase dormindo. Claro que ela deu um super chilique quando descobriu e falou um monte de coisas do tipo #@$%#!!!%#¨¨&**. Normal.
No meio dessa histeria dela, ela não conseguiu me ouvir dizer que eu não pretendia de maneira alguma ficar com o bichano. E realmente, não é a minha praia me prender e ser responsável por outra vida além da minha. Mas enquanto ele estivesse sob meu teto, é minha responsabilidade. E outra, já tínhamos uma cã maluca em casa, a Lola, e ela era mais do que o suficiente.
O gato é muito engraçadinho, grafite com listras pretas, cabia na palma da minha mão. O que fazer agora? Dar leite, um nome e começar a anunciar a doação de um filhote.
No meio dessa histeria dela, ela não conseguiu me ouvir dizer que eu não pretendia de maneira alguma ficar com o bichano. E realmente, não é a minha praia me prender e ser responsável por outra vida além da minha. Mas enquanto ele estivesse sob meu teto, é minha responsabilidade. E outra, já tínhamos uma cã maluca em casa, a Lola, e ela era mais do que o suficiente.
O gato é muito engraçadinho, grafite com listras pretas, cabia na palma da minha mão. O que fazer agora? Dar leite, um nome e começar a anunciar a doação de um filhote.
domingo, 12 de julho de 2009
por acaso
Era segunda-feira, e religiosamente toda segunda-feira o Gabriel estava lá em casa assistindo CQC. Minhas aulas da faculdade já haviam acabado, e como estudo a noite, pude aproveitar para ficar fazendo nada embaixo das cobertas. Estava muito frio.
Naquela mesma noite conversamos sobre bichos de estimação. Minha irmã, Bruna, tem uma cadela, Lola, que não sossega um minuto. A cachorra é pirada e cheirada e entrou correndo na sala, brincando com todo mundo ao mesmo tempo como sempre fazia. E aí o assunto surgiu. A Bruna também tinha uns peixes e eu já tive umas lagartixas e aranhas de estimação. Advinhem o único animal que nunca tivemos? GA-TO.
Imagine, um gato, nem pensar. Minha mãe teria um surto, ela odeia bichos. Nem pensar. Enfim, CQC assistido, risadas e pizzas chegando ao fim, era hora do Gabriel ir embora. Era meia-noite e pouquinho quando fui abrir o portão pra ele e o inesperado aconteceu. Estava lá, perdido no meio da rua, mal sabia andar. Ah não, 'cê não vai pegar isso aí né?, disse Gabriel, só que ele estava errado. Eu peguei.
Naquela mesma noite conversamos sobre bichos de estimação. Minha irmã, Bruna, tem uma cadela, Lola, que não sossega um minuto. A cachorra é pirada e cheirada e entrou correndo na sala, brincando com todo mundo ao mesmo tempo como sempre fazia. E aí o assunto surgiu. A Bruna também tinha uns peixes e eu já tive umas lagartixas e aranhas de estimação. Advinhem o único animal que nunca tivemos? GA-TO.
Imagine, um gato, nem pensar. Minha mãe teria um surto, ela odeia bichos. Nem pensar. Enfim, CQC assistido, risadas e pizzas chegando ao fim, era hora do Gabriel ir embora. Era meia-noite e pouquinho quando fui abrir o portão pra ele e o inesperado aconteceu. Estava lá, perdido no meio da rua, mal sabia andar. Ah não, 'cê não vai pegar isso aí né?, disse Gabriel, só que ele estava errado. Eu peguei.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
para falar dos cães
Eu brincava sozinho, às vezes com a Pantera Terceira, minha pastora-alemã treinada, era o máximo, ninguém mexia comigo – nem com ela. Em seguida, tive uma doberman amalucada, Pitusca, a doberman mais sem noção e agitada que eu já vi, mas também muito obediente. Esses nomes horríveis foram ideia do meu avô, mas os nomes nunca importaram muito, eu adorava cachorros, eles eram meus companheiros e protetores. Definitivamente, eu era do time dos cães.
De fim de semana minha rua parecia um parque, molecada soltando pipa e jogando bola, as meninas andando de bicicleta e fazendo coisas de meninas... Meus tios sempre foram mais como meus irmãos mais velhos, e o negócio deles era carros. Juntava ele e os filhos dos vizinhos - praticamente todos da mesma idade - e ficavam lá, lavando carro, falando de namoradas e besteiras. Eu, esperto, ficava sempre rondando ouvindo as conversas e tomando notas mentais para daqui uns anos. Pelo menos, é assim que eu me lembro de tudo.
Quando a Pantera morreu, ninguém me contou. E, naquela época, eu nunca soube direito o que é a Morte, só que ela rondava por aí - e por lá, na minha casa. Ela era super educada, comportada e obediente, mas na rua precisava de coleira, "por precaução", diziam. Eu gostava de amarrar os cachorros na bicicleta ou de passear de patins porque eles me levavam ao máximo de adrenalina que um garoto com menos de 10 anos pode ter.
Certa vez eu estava com a Pantera passeando numa tarde ensolarada de fim de semana como sempre, e apareceu um gato na esquina. Ela correu tão desesperadamente na direção do gato que me levou junto e tive que soltar a coleira antes que ela arrancasse meu braço. A rua inteira parou para olhar e meus tios correram pra segurar a cã. Ela estraçalhou o gato, deixando só o resto da carcaça largada na rua. Eu só fiquei parado olhando assustado enquanto tudo acontecia. Até hoje não sei se soltei de propósito ou se a força dela maior que a minha prevaleceu. Depois disso, ficamos um tempo sem sair pra rua.
De fim de semana minha rua parecia um parque, molecada soltando pipa e jogando bola, as meninas andando de bicicleta e fazendo coisas de meninas... Meus tios sempre foram mais como meus irmãos mais velhos, e o negócio deles era carros. Juntava ele e os filhos dos vizinhos - praticamente todos da mesma idade - e ficavam lá, lavando carro, falando de namoradas e besteiras. Eu, esperto, ficava sempre rondando ouvindo as conversas e tomando notas mentais para daqui uns anos. Pelo menos, é assim que eu me lembro de tudo.
Quando a Pantera morreu, ninguém me contou. E, naquela época, eu nunca soube direito o que é a Morte, só que ela rondava por aí - e por lá, na minha casa. Ela era super educada, comportada e obediente, mas na rua precisava de coleira, "por precaução", diziam. Eu gostava de amarrar os cachorros na bicicleta ou de passear de patins porque eles me levavam ao máximo de adrenalina que um garoto com menos de 10 anos pode ter.
Certa vez eu estava com a Pantera passeando numa tarde ensolarada de fim de semana como sempre, e apareceu um gato na esquina. Ela correu tão desesperadamente na direção do gato que me levou junto e tive que soltar a coleira antes que ela arrancasse meu braço. A rua inteira parou para olhar e meus tios correram pra segurar a cã. Ela estraçalhou o gato, deixando só o resto da carcaça largada na rua. Eu só fiquei parado olhando assustado enquanto tudo acontecia. Até hoje não sei se soltei de propósito ou se a força dela maior que a minha prevaleceu. Depois disso, ficamos um tempo sem sair pra rua.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
diferenças
Eu acho que sempre fui inquieto, desde fetozinho até hoje. Dava um baita trabalho para minha avó, pulava do berço, batia a cabeça em tudo, estava sempre procurando um lugar mais alto para pular e escalar. Conforme ia crescendo, cresciam juntos os desafios e o número de machucados. E é claro, minha raiva pelos gatos.
Eles eram os maiores desafiadores possíveis. Eu brincava com outras crianças, mas não era a mesma coisa, elas eram fáceis, e os gatos, bem, os gatos eram sarcásticos e maldosos. Eu queria superá-los de toda forma, corria no meio-fio, pulava de um lugar a outro tentando a perfeição no equilíbrio, entocava quieto a fim de me esconder sem que pudessem me perceber, e por aí vai. Não fui das crianças mais normais.
Leite era o que me fazia levantar da cama de manhã, voltar para casa a tarde e dormir a noite. O animal que queria ser quando pequeno era um tigre. Sempre fui independente, nunca precisei de ninguém para brincar ou me ajudar com alguma coisa. Gosto muito de carinho, a carência também sempre me rondou. Impetuoso, exibido, folgado... Semelhanças e gostos parecidos demais por algo que odiava.
Lembro que uma vez eu estava escalando uma árvore tentando alcançar um gato branco. Não estava tão alto. Cheguei até ele e ele não correu, então eu o empurrei, não com maldade, mas para observar como ele caia em pé. Como eu achava aquilo perfeito. Pulei também e só ouvi o som abafado da terra contra meu corpo. Estropiado no chão, olhei para cima, e o gato olhava para baixo. Diferenças.
[Fiquei ali, no meu lugar, por um tempo.]
Eles eram os maiores desafiadores possíveis. Eu brincava com outras crianças, mas não era a mesma coisa, elas eram fáceis, e os gatos, bem, os gatos eram sarcásticos e maldosos. Eu queria superá-los de toda forma, corria no meio-fio, pulava de um lugar a outro tentando a perfeição no equilíbrio, entocava quieto a fim de me esconder sem que pudessem me perceber, e por aí vai. Não fui das crianças mais normais.
Leite era o que me fazia levantar da cama de manhã, voltar para casa a tarde e dormir a noite. O animal que queria ser quando pequeno era um tigre. Sempre fui independente, nunca precisei de ninguém para brincar ou me ajudar com alguma coisa. Gosto muito de carinho, a carência também sempre me rondou. Impetuoso, exibido, folgado... Semelhanças e gostos parecidos demais por algo que odiava.
Lembro que uma vez eu estava escalando uma árvore tentando alcançar um gato branco. Não estava tão alto. Cheguei até ele e ele não correu, então eu o empurrei, não com maldade, mas para observar como ele caia em pé. Como eu achava aquilo perfeito. Pulei também e só ouvi o som abafado da terra contra meu corpo. Estropiado no chão, olhei para cima, e o gato olhava para baixo. Diferenças.
[Fiquei ali, no meu lugar, por um tempo.]
quinta-feira, 2 de julho de 2009
maior que eu
Alguns garotos gostavam de maltratar passarinhos, de preferência pombas, mas pombas são indefesas, covardes, sem graça. Além do que, lá na rua também tinha a “velha dos pombos”, lendária personagem que defendia ardorosamente os ratinhos voadores, e ela era meio maluca e enchia o saco. Uma vez taquei uma pedra na janela dela. Ninguém nunca soube que fui eu.
Sempre gostei de escalar lugares altos, nunca parei para pensar o porquê, ouvi dizer que é sonho de alpinista: uma conquista depois de outra conquista. Quando era menor essa era minha febre, escalar. Talvez para me sentir maior que todo mundo. E eu me sentia. O complicado era descer, eu nunca pensava na descida. Nunca tive medo, mas era foda.
Eu era muito competitivo e sempre desafiava o gato mais ligeiro e habilidoso para uma boa escalada. Eles, muito espertos, sempre topavam com aquele olhar malicioso e o sorriso malandro. Na minha inocência eu achava que iria ganhar um dia, que eu seria maior, que eu seria melhor que qualquer gato. Nunca cheguei tão alto quanto um felino, e isso me irritava mais ainda em relação a eles. Eu sempre gostei de desafios, de enfrentar algo maior que eu. E é como eu vejo os gatos até hoje, maiores que eu.
Sempre gostei de escalar lugares altos, nunca parei para pensar o porquê, ouvi dizer que é sonho de alpinista: uma conquista depois de outra conquista. Quando era menor essa era minha febre, escalar. Talvez para me sentir maior que todo mundo. E eu me sentia. O complicado era descer, eu nunca pensava na descida. Nunca tive medo, mas era foda.
Eu era muito competitivo e sempre desafiava o gato mais ligeiro e habilidoso para uma boa escalada. Eles, muito espertos, sempre topavam com aquele olhar malicioso e o sorriso malandro. Na minha inocência eu achava que iria ganhar um dia, que eu seria maior, que eu seria melhor que qualquer gato. Nunca cheguei tão alto quanto um felino, e isso me irritava mais ainda em relação a eles. Eu sempre gostei de desafios, de enfrentar algo maior que eu. E é como eu vejo os gatos até hoje, maiores que eu.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
primeiros gatos
Quando eu era pequenino eu odiava gatos, e minha rua era infestada deles. Tinha pomba, cachorro, passarinho, rato, mas o que me incomodava eram os malditos gatos. Eu morava com meus avós numa ladeira no bairro da Saúde, em São Paulo, e tinha uma vizinha no topo da rua que tinha uns 10 gatos de todos as formas e tipos e raças. Vira e mexe nos cruzávamos e nos atacávamos.
Eu devia ter uns oito ou nove anos quando a guerra foi declarada. Eu fazia de tudo para atazanar qualquer gato, imaginando que ele nunca revidaria. Sacudia, chutava, amarra latinha, cortava o bigode, dava nó no rabo e ele sempre fugia tão quieto quanto aparecia. Até as batalhas ficarem mais sérias.
Quando um bichano se enfeza, meus amigos, a melhor coisa a fazer é chutá-lo pra longe e correr o mais rápido que você puder correr. Claro que NÃO foi o que eu fiz. Minha doce avozinha sempre me assistia da calçada quando eu brincava na rua, mas não eram todos os lugares que seus olhos alcançavam. O que eu fazia escondido aquele dia eu queria ter feito às claras para que logo em seguida viessem me salvar da emboscada que eu arrumei pra mim mesmo.
Gatos não revidam, quase nunca, e foi nesse “quase” que eu paguei os meus pecados. Lá estava eu pimpão bolando alguma maldade quando me deparei com um dos gatos e já fui logo pra cima, só que dessa vez ele não correu. Eu apanhava muito quando era criança, e essa foi uma surra diferente, eu acabei com o gato e ele acabou comigo. Desci a rua sangrando e todo arranhado segurando as lágrimas em busca de consolo. Eu sei que ele também fez o mesmo. Eu odiava gatos e tinha certeza que eles me odiavam também, e hoje, com 22 anos, percebi que brigávamos mas nos entendíamos no desentendimento.
Eu devia ter uns oito ou nove anos quando a guerra foi declarada. Eu fazia de tudo para atazanar qualquer gato, imaginando que ele nunca revidaria. Sacudia, chutava, amarra latinha, cortava o bigode, dava nó no rabo e ele sempre fugia tão quieto quanto aparecia. Até as batalhas ficarem mais sérias.
Quando um bichano se enfeza, meus amigos, a melhor coisa a fazer é chutá-lo pra longe e correr o mais rápido que você puder correr. Claro que NÃO foi o que eu fiz. Minha doce avozinha sempre me assistia da calçada quando eu brincava na rua, mas não eram todos os lugares que seus olhos alcançavam. O que eu fazia escondido aquele dia eu queria ter feito às claras para que logo em seguida viessem me salvar da emboscada que eu arrumei pra mim mesmo.
Gatos não revidam, quase nunca, e foi nesse “quase” que eu paguei os meus pecados. Lá estava eu pimpão bolando alguma maldade quando me deparei com um dos gatos e já fui logo pra cima, só que dessa vez ele não correu. Eu apanhava muito quando era criança, e essa foi uma surra diferente, eu acabei com o gato e ele acabou comigo. Desci a rua sangrando e todo arranhado segurando as lágrimas em busca de consolo. Eu sei que ele também fez o mesmo. Eu odiava gatos e tinha certeza que eles me odiavam também, e hoje, com 22 anos, percebi que brigávamos mas nos entendíamos no desentendimento.
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