terça-feira, 28 de julho de 2009

despedida

- O nome dela é Kitana.
- Ahh que nome bonito, forte. Não vou mudar.
- Mas o senhor vai ter que vir aqui de vez em quando com ela, beleza?
- Tá certo. Muito obrigado viu?!
- Falou.

Eu cheguei em casa no último sábado às 9h sem dormir nada. Às 9h30 já estava trabalhando na edição de um curta com um amigo. Café, minha mãe gritando para variar, impaciência, café, mais gritos, surto por causa da Lola e da Kitana. "A Kitana tá sem comer. A ração dela acabou faz tempo". Já vou, já vou. "E essa gata vai ficar aqui em casa até quando? Você tem que arrumar alguém pra essa gata, hein?!". Já vou, já vou.

Esse "já vou" ficou lá pro meio-dia, hora que fiquei um pouco mais livre e a gata precisava realmente comer. Cabelos desgrenhados apontando todas as direções, barba gigante, camiseta velha, calça suja de terra, uma meia de cada par porque havia sujado um pé com xixi na madrugada anterior, chinelos e um destino: ir até a esquina comprar ração. Chegando lá, demorou um monte para eu ser atendido. Uma droga, porque aquele pet shop é pequeno e não tinha quase ninguém.

Fazia tempo que eu estava procurando alguém para ficar com a gata, mas nunca encontrava. Uma amiga quase ficou, mas não rolou. Depois outro conhecido, e nada. Cheguei a pensar que teria que ficar com ela. E essa ideia não me soava tão ruim assim, estava procurando sem pressa um novo lar pra gatinha, mas se não encontrasse, adoraria vê-la grandona e folgada me esperando em algum canto escondido da casa.

Enquanto comprava ração, um homem entrou com três crianças perguntando se eles não tinham nenhum filhote de gato para doar. Eu não acreditei. O cara repetiu e eu me adiantei: "eu tenho".
- O quê? - perguntou.
- ...Um filhote de gato para doar. Eu estava comprando ração pra ela nesse exato momento - respondi inacreditado com a coincidência.
- 'Cê tá de brincadeira!
- Não. Não estou.

Enquanto descíamos a rua em direção à minha casa, ele me explicou que as crianças tinham um gato de três anos que morreu atropelado e que eles estavam sentindo falta. Me mostrou onde morava, perto da minha casa. "O senhor espera aqui que eu vou lá pegar a gata e, se o senhor gostar, é sua". Minha mãe e minha irmã estavam no quintal limpando e arrumando toda a sujeira e a destruição de Lola furacão quando eu dei a notícia. Quando vi a Kitana saltitando pelo quintal, sabia que nunca mais a veria.

Não sei se foi porque eu esqueci ou porque eu tenho esperanças de vê-la de novo, entreguei a gata sem me despedir.